A polícia de Pinheiro, no Maranhão, prendeu um lavrador de 54 anos que mantinha a filha em cárcere privado há 16 anos e tinha com ela sete filhos, com idades de 12 anos a 2 meses. José Agostinho Bispo Pereira abusava sexualmente da filha desde que ela tinha 12 anos. Sandra Maria Monteiro, hoje com 28 anos, não sabe ler nem escrever e nunca pode sair da ilhota onde vivia com o pai, no Povoado de Experimento, em Pinheiro, a 340 km de São Luís. Na cidade de Pinheiro, muita gente sabia da história da família de Pereira, mas ninguém queria se intrometer na vida do lavrador, que passou a abusar da filha desde que a mãe dela foi embora de casa.
- A comunidade sabia, ficava indignada, mas ninguém queria se meter – diz a delegada regional de Pinheiro, Laura Amélia Barbosa.
A opinião das pessoas começou a mudar com as sucessivas campanhas contra pedofilia e violência sexual. No dia 21 de maio passado, o Ministério Público, o Conselho Tutelar e a Polícia de Pinheiro realizaram uma passeata para combater a exploração sexual de criança e adolescente. Foi então que as pessoas decidiram falar.
A polícia passou a investigar o caso e descobriu a história. Nesta terça-feira, por volta de 17h30m, uma equipe de delegados e investigadores embarcou em três canoas para alcançar a ilhota onde Pereira vivia, que não tem acesso por terra.
A situação das crianças chocou os policiais. Dos sete filhos, seis estavam no local. A última filha-neta, um bebê de cerca de dois meses, foi doada a uma família. Sandra não sabe dizer quem é, afirma apenas que “é gente boa”.
Os seis mantidos na ilhota nunca foram à escola e são proibidos de sair dali pelo pai-avô. O menino de 12 anos, o mais velho, fugiu assustado ao ver a chegada da polícia. Um garoto de oito anos é surdo e mudo, provavelmente por problemas de consangüinidade. M.R, uma menina de apenas sete anos, também já começou a ser abusada por Pereira, segundo a polícia.
A seguir vem uma menina de cinco anos e dois meninos, de quatro e dois anos. A menina de cinco anos também será submetida a exames para detectar se também era abusada.
Resgatadas, as crianças tiveram de ser encaminhadas a um abrigo, para tomar banho, serem vestidas e alimentadas.
- A situação é de abandono e penúria – relata à delegada.
Preso em flagrante, Pereira afirmou que já estava ressabiado com a possibilidade de o caso ser descoberto pela polícia e temia que isso acontecesse. Segundo a delegada, ele acha normal ter mantido a filha e os filhos-netos em cárcere privado e não vê problema no relacionamento conjugal. Diz que nunca forçou a filha a continuar ali.
Sandra, por sua vez, diz que gosta de Pereira como pai.
- Ela demonstra algum distúrbio psicológico. Ela diz que gosta dele como pai, mas viviam como marido e mulher. É uma pessoa rude, sem qualquer tipo de informação – afirma Laura.
Sandra disse à polícia que não foi a única filha de Pereira a ser abusada. Uma irmã dela, que a polícia tenta localizar, também teria tido um filho com o pai e fugiu do povoado. Foi morar num lugar chamado Refúgio, também na região de Pinheiro.
- A Sandra diz que ela fugiu e lhe disse: “Não vou ficar parindo dele para o resto da vida” – relata à delegada.
Os irmãos homens de Sandra nunca reagiram à situação e, aos poucos, deixaram a ilha, deixando-a para trás.
- A Sandra tem vergonha de falar sobre a situação. Todos passavam muita fome e viviam sem alternativa – diz a delegada.
Pereira foi autuado em flagrante pelo estupro da filha-neta de sete anos, abandono material – porque todos viviam sem alimentação -., abandono intelectual – nunca foram à escola – e cárcere privado. Na delegacia, ele foi separado dos demais presos, que queriam agredi-lo.
Segundo a delegada, a Assistência Social está providenciando benefício previdenciário ao menino surdo e mudo e Sandra será encaixada na lei de Assistência Social que prevê o pagamento de um salário mínimo a quem, como ela, vive no desamparo. Não se sabe ainda onde a família vai morar. Por enquanto, estão em abrigos e foram encaminhados para assistência social e psicológica
Fonte : O Globo
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